quinta-feira, 28 de março de 2013

(voltar a) conduzir

na realidade não é bem voltar porque eu nunca conduzi muito.

acho que não sou talhada para a coisa. acho que penso demais. acho que os 18 anos são a idade ideal para se tirar a carta (e comprar um chaveco), porque já não somos parvos mas ainda não pensamos demasiado nas coisas.

tirei a carta aos 23 anos, numa fase que tinha ganho receios a várias coisas. devia ter comprado um carrito barato, mas na altura eu e o A tínhamos comprado há pouco tempo um carro para as nossas voltas. não vivíamos juntos, mas eu para o trabalho não precisava de carro e sempre que necessário ele ia buscar-me e levar-me onde fosse preciso. também na altura já estávamos a juntar dinheiro para o casamento e achei que era uma despesa desnecessária. tinha eu acabado de tirar a carta (nunca soube como é que a examinadora não me chumbou!), peguei no carro com o A ao meu lado. deu molho! como discutir é o nosso maior entretenimento, ainda insistimos mais umas vezes, a coisa correu tão mal que passei imenso tempo sem voltar a pegar no carro. mas nunca vivi bem com isso, gastei dinheiro com a carta, detesto sentir-me dependente de outros, e acima de tudo era uma estupidez ter carta e não conduzir! pensava imenso nisto e chegava a sonhar que estava a conduzir e ficava a suar imenso, ou vezes que cheguei a ter pesadelos. alguns anos mais tarde comecei a dar umas voltinhas sozinha. os vizinhos que me tenham visto deviam rir-se. dava apenas a volta às vivendas da rua e voltava a estacionar, depois aventurei-me para umas ruas acima. ainda fui uma ou outra vez a casa da minha mãe quando o A não estava - combinei com o meu irmão que me veio "buscar" a casa, estacionou o carro aqui à porta, e fomos no meu carro. o problema é que entre cada uma destas experiências passou muito tempo (entre algumas passou mais de um ano) e por isso não apanhei qualquer ritmo. finalmente quando engravidei pensei "a criança não tem culpa de ter uma mãe parva" e eu, filha de pais sem carta, sei bem o que é crescer a demorar imenso tempo nos transportes para ir a sítios relativamente perto, vir carregados de compras, depender de outros, não ir a sítios por não ser fácil o transporte. lá comecei a andar mais, fui várias vezes a casa da minha mãe para irmos às compras, inclusive a minha mãe chegou a pedir-me para levá-la a um sítio perto (estava tão habituada a conduzir sozinha que me atrapalhei toda com ela ao lado e tenho plena noção que a assustei) e neste recomeço nunca receei pela minha barriga. depois vieram os últimos tempos de gravidez, o inchaço e incómodos não me deixavam conduzir, e finalmente nasceu a D!

como já disse, penso demais. e se a aleijo? e se, e se, e se?

além da minha enorme convicção de que a criança não tem culpa de ter uma mãe parva, existe os turnos do A, que mudam a cada semana. há semanas que tem mesmo de ser. ir para casa da minha mãe de transportes por ter medo de conduzir estava fora de questão.

na última semana antes de começarmos os dois a trabalhar e apesar de ter imensa coisa para fazer em casa (uma desculpa habitual na minha cabeça para não pegar no carro), tive um convite para ir fazer uma visita a uma amiga perto. aproveitei. a D fartou-se de chorar no caminho de ida e de volta. isto ainda me fez pior à mente. estaria ela a sentir o meu stress da condução e por isso chorava tanto? arregacei as mangas e o final dessa semana foi diário: quarta-feira centro de saúde, quinta-feira casa dos meus tios (nunca tinha feito o caminho sozinha), sexta-feira casa da minha mãe.

e iniciou-se a primeira semana de trabalho conjunto, logo com o A a trabalhar durante a noite e eu a ter de levá-la de manhã. custou, mas foi. na segunda semana, logo com o A a trabalhar durante a tarde e eu a ter de ir buscá-la, custou, mas foi. descobri que levá-la de manhã é melhor, porque acordo e tenho que fazer várias coisas em pouco tempo, e por isso não tenho possibilidade de pensar em ter medo. 

todos os dias pedi ajuda a Deus, todos os dias suei das mãos (se calhar é só o material do volante e não o stress), todos os dias achei que fiz alguma (s) coisa (s) mal, todos os dias fiz uma análise à minha condução e tentei melhorar no dia seguinte. felizmente ontem foi o primeiro dia que a D voltou a chorar enquanto conduzia e foi após eu ter arrancado à bruta (devia estar a dormir e assustou-se).

e já passaram as duas semanas! UFA. e apesar de neste momento ainda não o sentir, acho que estou mais crescida. e a D merece :)

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